Cidade do México (fora do centro)

Realmente o Distrito Federal é tão grande (onde fica a Cidade do México) que precisei dividir em dois. Este post será sobre a Cidade do México fora de seu centro e as outras cidades dentro do Distrito Federal.

Como havia falado no post anterior, cheguei antes de novembro ao México para participar da famosa Fiesta de los Muertos (o nosso Dia de Finados). A festa é uma data muito importante no país (realmente é uma festa) a ponto de ter sido declarada pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Para fazer um link com outro post do blog, no Brasil temos 6, e no México, 7. A festa se origina com as etnias Astecas, Maias, Purépechas e Totonacas, sendo que os primeiros celebravam pelo menos 6 vezes no ano, tinham a prática de conservar os crânios e estava presente a deusa Mictecacíhuatl. Pois bem, a festa foi transferida para os dias 31 de outubro a 2 de novembro, os crânios foram mantidos (principalmente de chocolate e açúcar rs), e a deusa foi substituída pela “La Catrina“.

Nós 4 em frente ao quadro “Sueño de una tarde dominical en la Alameda”, de Diego Rivera. O quadro está em exibição permanente no Museu Mural Diego Rivera e retrata os personagens mexicanos em torno da La Catrina, ele mesmo e Frida Kahlo

Os preparativos são vistos na cidade inteira: vários altares espalhados na rua e nas casas das pessoas, com as oferendas que @ falecid@ da família mais gostava.

Altar festivo no metrô
Altar festivo no metrô

Incluem também passar no mercado para comprar as flores e as comidas, o que fizemos antes de ir para Mixquic, um povoado do século XI que tem a festa muito conhecida. Fica pertinho da cidade do México, chega-se de metrô mesmo até a estação Tlahuac e de lá se toma um ônibus, bem fácil, todos os mexicanos estão indo para lá, e você será @ únic@ gring@.

Essa não parava de falar, me identifiquei com ela rs
Essa não parava de falar, me identifiquei com ela rs
Ser ou não ser? Esqueci minha caveirinha lá =/
Ser ou não ser? Esqueci minha caveirinha lá =/
Começou a gastronomia exótica:
Começou a gastronomia exótica: “chapolines”, vulgo grilo. Come-se como pipoca, é um ótimo aperitivo.

No dia 31/10 pela noite chegamos em Mixquic, e a festa é bem legal! Na verdade, fiquei um pouco frustrado no começo porque me pareceu igual ao Halloween com as particularidades latinas, obviamente. Come-se muito, ouve-se música bem alta e caminha-se bastante pelas ruas. Mas logo depois fui me acostumando e gostando, principalmente quando fizemos o passeio de barco pelos canais astecas escavados no lugar. E aí comemos e nos divertimos, é como se fosse um carnaval de rua, com um festival de danças típicas muito bonito.

Dia anterior ao dos mortos em Mixquic (crianças)
Dia anterior ao dos mortos em Mixquic (crianças)
Dia dos mortos em Mixquic - pode ser macabro também
Dia dos mortos em Mixquic – pode ser macabro também

No dia seguinte (dia 2/11 mesmo) é o dia de ir ao cemitério prestar a homenagem aos mortos. E aí foi o que mais gostei – é festa dentro do cemitério, e funciona assim: as bandas ficam perambulando pelo cemitério enquanto as famílias estendem um lençol sobre a tumba e ficam comendo. Quando querem, chamam a banda, pagam umas moedinhas e eles tocam a música que @ falecid@ mais gostava. É bem bonito, não tem o clima pesado do Finados que temos aqui e foi interessante conversar com eles e ver uma visão diferente da morte, como sendo uma transição e não um fim.

Dia dos mortos em Mixquic
Dia dos mortos em Mixquic

Passado o dia dos mortos, voltamos para a CM para eu fazer os passeios fora do centro. Comecei pegando uma excursão em um dos albergues que tem ali no centro mesmo para as ruínas de Teotihuacan. Nunca gostei de excursões, mas o preço de 50 pesos valia a pena (daria 3 reais a mais do que ir de transporte público demorando bem menos). A primeira parada, na fúnebre Praça das Três Culturas. Ok, o lugar é lindo e representa a cultura de Tlatelolco com a base das pirâmides, a cultura espanhola com o templo Católico de Santiago e a cultura do México moderno, com a torre de Tlatelolco.

Praça das Três Culturas: pirâmide Asteca no primeiro plano, Catedral espanhola em segundo e os prédios construídos para abrigar os desalojados do terremoto de 1985
Praça das Três Culturas: pirâmide Asteca no primeiro plano, Catedral espanhola em segundo e os prédios construídos para abrigar os desalojados do terremoto de 1985

Primeiramente, o povo mexica, uma das etnias que estava subjugada aos Astecas funcionando como mercado da cidade principal, sobrevivendo como seus aliados até que em 13 de agosto de 1521, 40.000 pessoas (crianças, mulheres e homens) foram assassinadas pelos espanhóis, que construíram a Catedral com as pedras da ruína Asteca, representando a segunda cultura.

Pouco mais de 400 anos depois, em 2 de outubro de 1968, um novo massacre que manchou de (muito) sangue a história do México. O ano foi marcado por revoltas no mundo inteiro contra o sistema neoliberal que acabava com a vida das pessoas, contra a guerra do Vietnã, contra as ditaduras na América Latina e os planos de dominação norte-americanos, e no México não foi diferente (recomendo fortemente o documentário Utopia e Barbárie – https://www.youtube.com/watch?v=zcNREjqtcAY).

Começou com protestos dentro da UNAM (Universidade Autônoma do México, vale a visita também) em que estudantes foram espancados e presos indiscriminadamente, seguido pela demissão de seu reitor e a ocupação da praça de Tlatelolco 10 dias antes de começarem os jogos olímpicos. Na mesma noite, o exército chegou já matando quem via na frente (novamente crianças, mulheres e homens), no que se estendeu pela noite inteira. Estimativas estão entre 200 e 300 mortos numa única noite, mas podem chegar a 1000. Em 2006 o presidente da época foi acusado por genocídio sofrendo a sansão de prisão domiciliar, mas no mesmo ano foi solto. Mais um triste episódio financiado pelos carinhosos neighbours EUA.

Segunda parada: Catedral de Nossa Senhora de Guadalupe. Arquitetura interessante, e deve ser mais ainda para os católicos, mas se fosse para um passeio único não valeria muito a pena.

Sinos da Catedral de Nossa Senhora de Guadalupe
Sinos da Catedral de Nossa Senhora de Guadalupe

Por fim, o principal, a cidade Patrimônio Mundial da UNESCO de Teotihuacan. Foi construída continuamente entre 100 a.C. e 250 d.C., durando até 550, quando foi saqueada e queimada. Chegou a ser a maior cidade da era Pré-Colombiana contando com mais de 125 mil habitantes, com diversas etnias. Por ser das pirâmides mais antigas do México, acredita-se que influenciou a arquitetura dos Maias, Toltecas, Olmecas e Astecas. As teorias para seu fim passam por secas devido a mudanças climáticas causando revoltas internas. O lugar vale muito a pena a visita, é realmente impressionante.

Vista da calçada dos mortos de cima da Pirâmide da Lua
Vista da calçada dos mortos de cima da Pirâmide da Lua
Calçada dos mortos
Calçada dos mortos

O eixo principal é a “Rua dos Mortos”, que começa na pirâmide da Lua e termina na Cidadela. Tem apenas 4 km, e como todas as pirâmides do local está a oriente do norte astronômico.

Mariachi em frente a Pirâmide da Lua (a segunda maior, com 43 m de altura)
Mariachi em frente a Pirâmide da Lua (a segunda maior, com 43 m de altura)

Voltando à CM, os pontos que valem a visita:

Museu Frida Kahlo (Casa Azul) – “Pies para qué los quiero si tengo alas pa’volar”, a frase marcante é de uma das maiores pintoras do século XX. Situada no charmoso bairro de Coyacán, a casa em que Frida nasceu e depois viveu com seu esposo Diego Rivera é um espaço calmo e ótimo para ser introduzido na sua arte (recomendo antes de ir assistir antes ao filme Frida com Salma Hayek). Como chegar: metrô Coyacán, e depois é só caminhar. É um pouco longe, mas o bairro por si só já é um lugar lindo de se visitar. Preço: 100 pesos.

No museu não tem tantas obras da Frida, mas o espaço vale a visita!
No museu não tem tantas obras da Frida, mas o espaço vale a visita!
Jardim da casa azul
Jardim da casa azul

Casa de Trotsky – Quando foi banido da União Soviética, após a morte de Lênin e a tomada do poder por Stálin, Trostky escolheu bem e fugiu para a casa de Frida em Coyacán. Lá ficou por um tempo até que se mudou com sua esposa (depois que todo mundo se pegou também) para três ruas depois. É emocionante ver a história em sua casa, com vestígios do atentado que sofreu, e ler que ali foi assassinado por um de seus seguranças, de ideologia Stalinista. Aqui achei uma narrativa bem legal e mais completa da história. Como chegar: só caminhar desde a casa de Frida. Preço: gratuito.

Casa que Trotsky nos últimos anos de sua vida
Casa que Trotsky viveu em seus últimos anos, até ser assassinado
Quarto de Trotsky
Quarto de Trotsky
Casa de Trostky
Casa de Trostky
Quarto de Trotsky
Quarto de Trotsky

Castelo de Chapultepec (Castillo de Chapultepéc) – Em náhuatl, “montanha dos grilos”, é o único castelo Real da América, e sede do Museu Nacional de História. Fica no Bosque de Chapultepec, um dos maiores parques urbanos do mundo (fiquei surpreso ao saber que o maior mesmo fica em São Paulo), e sua história vai desde a época que os reis Astecas usavam suas águas para banhos. No século XV o “engenheiro” Nezahualcóyotl construiu o aqueduto que levaria as águas do bosque até a cidade de Tenochtitlán, e como recompensa, ganhou o bosque para si. Desde então passou por reformas, novas construções, recebeu figuras importantes esapanholas e protagonizou a guerra contra os EUA. A vista é linda e os murais dentro são imperdíveis; para os que tem mais tempo, no Bosque de Chapultepec tem vários cursos interessantes gratuitos, eu frequentei uns de história da arte muito legais! Como chegar: metrô Chapultepec. Preço: 59 pesos

Castelo de Chapultepec
Castelo de Chapultepec
Varanda do Castelo
Varanda do Castelo

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Museu Nacional de Antropologia – Um dos pontos mais visitados do México, considerado o segundo melhor do mundo pelo site Trip Advisor. Fui três dias seguidos e não consegui ver tudo, é muita informação, mas vale para se situar na história do México, nos povos, nas culturas. Vale também pela arquitetura e porque em sua entrada, a cada meia hora tem apresentações das Danças dos Voadores (Danzas de los Voladores), que eu fiquei muito impressionado. Não recomendo nem olhar no Youtube, só ver ao vivo mesmo! Como chegar: caminhando a partir do Bosque de Chapultepec. Preço: 64 pesos

Bosque de Chapultepec
Bosque de Chapultepec
Museu Nacional de Antropologia
Museu Nacional de Antropologia

Arena da Cidade do México – Não poderia faltar a luta livre. O espetáculo é bem tosco, bem engraçado, você se diverte bastante naquela história dos bonzinhos lutando contra o mal. O lugar é meio treta pra chegar, então recomendo ir de taxi, e o preço da entrada era alto (não lembro o quanto exatamente). Mas vale torcer e se divertir.

Mucha lucha!
Mucha lucha!

Plaza Garibaldi – Vale ir de noite para ouvir os Mariachis. Pode parecer bem turístico, mas não é! É muito divertido ouvir e cantar (ou fingir que canta) as músicas com eles, mas o que ganha definitivamente é o tal do “Toque”. Alguém teve a brilhante ideia de levar uma caixa que produz energia elétrica. Todos ficam de mãos dadas recebendo choque e o primeiro que soltar paga uma rodada de bebida.

A brilhante ideia de levar choque
A brilhante ideia de levar choque

Xochimilco – uma das 16 cidades que compõem o Distrito Federal, e mais um Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Não vou usar o título que tinha lido antes de “Veneza Mexicana” porque acho muito mais bonito que Veneza rs. A ideia é alugar um barquinho e navegar pelos canais abertos pelos Astecas, daí um barco de música encosta do seu lado e você ouve o som deles; um barco de comida para do seu lado e você come, e vai parando nas tendinhas e tal, é bem divertido! Como chegar:

  1. Descer na Estação Tasqueña.
  2. Na Estação Tasqueña, trocar para o Tren Ligero e descer na Francisto Goitia.
  3. Para chegar nos barquinhos no Embarcadero Fernando Celada
    1. Pegue a Calle Las Rosas que já deve ser em frente à estação e siga até a calle México
    2. Vire à direita e siga até a Calle Gladiola e vire à esquerda

Cada barco sai uns 350 pesos, que pode ser dividido em até 12 pessoas.

Eu e Greta em Xochimilco
Eu e Greta em Xochimilco

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Barcos em Xochimilco
Barcos em Xochimilco

Museu Somaya – Era uma vez o cara mais rico do mundo em um país com esmagadora maioria pobre. Como ele é dono das redes de televisão, de alimentos, de entretenimento, e dono do país, ele resolve dar pão e circo para a população. Esse é o Carlos Slim, e o pão e circo é o Museu Somaya. A arquitetura é bem interessante, o acervo é impressionante (principalmente no terceiro andar, com as esculturas do Dalí e uma vasta coleção de obras do Rodin), mas eu fiquei intrigado como faltou um museólogo lá! As peças parecem estar jogadas! Mas é legal a visita, se tiver tempo sobrando rs. Como chegar: Descer no Metrô Copilco e caminhar um bocado até lá (2 km, mas a região é bonita).

Museu Sumaya
Museu Sumaya
Rodin
Rodin
Dali
Dali

Pirâmides de Tula – Ficam na cidade de Tula, também dentro do DF, mas só se chega de ônibus. Vale conhecer algo dos Toltecas, construído entre os séculos X e XII, os caras eram tão sinistros que 500 anos depois os Astecas usavam tecnologias deles. O ponto alto são os Atlantes de Tula, esculpidos em rochas de 4 metros de altura. Como chegar: os ônibus partem do Terminal Norte da Cidade do México, da empresa Ovnibus (95 MXN), são quase 2h de viagem e pode comprar na hora. Chegando lá, pegamos um outro ônibus e fomos andando até a entrada, é legal se estiver acompanhado, sozinho fica chato e é melhor pegar taxi mesmo. Vale visitar também a igreja da cidade, que tem umas pinturas surreais (não no sentido artístico, no sentido de doidas mesmo). Preço: 52 pesos

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Atlantes de Tula
Tula
Tula

Museu Dolores Olmedo: A casa de uma ricaça louca por pavões. Vale para quem gostou mesmo da Frida, é cheio das obras dela por lá (menos quando eu fui, que estavam em Nova Iorque ¬¬). Como chegar: Mesmo esquema de Xochimilco, pegar o metrô até o fim da linha 2 e depois pegar o Tren Lijero até a estação La Noria. Preço: 75 pesos

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Museu Dolores Olmedo

E boa viagem!

5 comentários sobre “Cidade do México (fora do centro)

  1. Olá! Gostei muito de seu relato e te escrevo para saber mais informações sobre Mixquic, podes me ajudar? Chegaremos na Cidade do México no dia 1º no final da tarde e gostaria de saber qual é o melhor momento do dia para visitar Mixquic, se manhã/tarde ou tarde/noite. Além disso, se puderes me ajudar com mais informações para chegar lá, te agradeço muito!
    Se preferir, posso te mandar um e-mail. Muito obrigada!!

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      1. Olá! Obrigada por responder! =)
        Estaremos em Puebla até a manhã do dia 1º de novembro, de lá, iremos a Ciudad de Mexico largar as malas no hotel/hostel (ainda não sabemos). Recebi uma dica de ir para Mixquic ainda no dia 1º, pois no dia 2 há muito movimento. Como nossa intenção é não depender de táxi, gostaria de receber tuas dicas sobre qual seria o melhor dia/horário para ir. Por exemplo, se sairmos de DF logo ao meio-dia do dia 1º e formos de metrô e ônibus, conseguiremos retornar ainda no mesmo dia? Ou o melhor é ir no dia 2 e ter mais tempo? Sei que o trânsito é bem complicado por lá, mas será que indo em outro horário que não seja o final da tarde não é melhor?
        =)

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  2. Liliane, se quiser dicas de Hostel na Cidade do México, vá para a Calle República de Brasil (que ironia, não?). Lá tem vários Hostel perto, muito bons, baratos e bem localizados. Para ir para Mixquic, cada dia é diferente, então acho legal ir no dia 1° e no dia 2!

    Acho difícil ir e voltar no mesmo dia porque a festa no dia 1° dura bastante tempo (a não ser que você não goste): tem as danças típicas, muita comida, o passeio pelos canais, e é legal se inserir na cultura mexicana. No dia 2 é mais o pessoal no cemitério mesmo (o que é uma festa, mas tem que ir com respeito!)

    O trânsito é complicado, e o metrô geralmente é lotado, mas rápido e funciona bem!

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